quinta-feira, 28 de agosto de 2008

O menino-homem-tigre

Eu via ninfas com cabeça de bode dançando em torno daquela fogueira.
Os homens, com suas cabeças de fogo e barba talibã, encantavam as ninfas usando suas harpas douradas.
No meio da noite cabeças ejetavam de seus corpos e se dissolviam no ar.
Aurora boreal no céu de estrelas!!

As ninfas, já enlouquecidas, despidas sem pudor devoravam os homens-barba-talibã.
A ninfa roxa cantava seu hino a bel canto que explodia os corpos dos rapazes com tronco de besta.
Foi então que o centurião chegou, com seu chifre unicórnio e suas vestes brancas.
Desceu do disco amarelo com seu cajado e abriu a boca emitindo seu grito abafado ensurdecendo as ninfas nuas e espalhando a fogueira.

Naquele dia eu vi, chorando na cadeira marrom o menino-homem-tigre.
Ele queria se erguer, mas se perdeu durante a dança da lua em aquário.
Pobre menino, com seus vasos estourados e suas pernas inchadas.

Naquele dia eu vi, o menino-homem-tigre e seu sorriso anil com a mão estendida feliz ao ver sua mãe.

Naquele dia eu senti, que o chão se abriu e eu sumi no rochedo. Caí nos espinhal e me debatia tentando sair.
Chorei mais que o menino-homem-tigre e me contorcia por dentro e por fora.
O sorriso anil do menino-homem-tigre não saia da minha cabeça e eu chorei para o centurião por causa da ninfa rosa.
Ela tentou comer minha cabeça!
O centurião me bateu com seu cajado e me mandou para os espinhos.
O chão se abriu de novo e eu vi, o menino-homem-tigre gritando meu nome me chamando de mãe.
Peguei o cajado do centurião e matei a ninfa rosa.
A ninfa roxa cantou para mim tentando enfeitiçar, mas me lembrei do sorriso anil e fui mais forte.
.
.
.
Hoje, o céu está mais limpo.
O céu ficou mais anil...deve ser o sorriso do menino-homem-tigre!

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Felicidade Clandestina




Ela era gorda, baixa, sardenta e de cabelos excessivamente crespos, meio arruivados. Tinha um busto enorme, enquanto nós todas ainda éramos achatadas. Como se não bastasse, enchia os dois bolsos da blusa, por cima do busto, com balas. Mas possuía o que qualquer criança devoradora de histórias gostaria de ter: um pai dono de livraria.
Pouco aproveitava. E nós menos ainda: até para aniversário, em vez de pelo menos um livrinho barato, ela nos entregava em mãos um cartão-postal da loja do pai. Ainda por cima era de paisagem do Recife mesmo, onde morávamos, com suas pontes mais do que vistas. Atrás a palavras como “data natalícia” e “saudade”.
Mas que talento tinha para a crueldade. Ela toda era pura vingança, chupando balas com barulho. Como essa menina devia nos odiar, nós que éramos imperdoavelmente bonitinhas, esguias, altinhas, de cabelos livres. Comigo exerceu com calma ferocidade o seu sadismo. Na minha ânsia
de ler, eu nem notava as humilhações a que ela me submetia: continuava a implorar-lhe emprestados os livros que ela não lia.
Até que veio para ela o magno dia de começar a exercer sobre mim um tortura chinesa.
Como casualmente, informou-me que possuía As reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato.
Era um livro grosso, meu Deus, era um livro para se ficar vivendo com ele, comendo-o, dormindo-o. E, completamente acima de minhas posses. Disse-me que eu passasse pela sua casa no dia seguinte e que ela o emprestaria.
Até o dia seguinte eu me transformei na própria esperança de alegria: eu não vivia, nadava devagar num mar suave, as ondas me levavam e me traziam.
No dia seguinte fui à sua casa, literalmente correndo. Ela não morava num sobrado como eu, e sim numa casa. Não me mandou entrar. Olhando bem para meus olhos, disse-me que havia emprestado o livro a outra menina, e que eu voltasse no dia seguinte para buscá-lo. Boquiaberta, saí devagar, mas em breve a esperança de novo me tomava toda e eu recomeçava na rua a andar
pulando, que era o meu modo estranho de andar pelas ruas de Recife. Dessa vez nem caí: guiava-me a promessa do livro, o dia seguinte viria, os dias seguintes seriam mais tarde a minha vida inteira, o amor pelo mundo me esperava, andei pulando pelas ruas como sempre e não caí nenhuma vez.
Mas não ficou simplesmente nisso. O plano secreto da filha do dono da livraria era tranqüilo e diabólico. No dia seguinte lá estava eu à porta de sua casa, com um sorriso e o coração batendo.
Para ouvir a resposta calma: o livro ainda não estava em seu poder, que eu voltasse no dia seguinte.
Mal sabia eu como mais tarde, no decorrer da vida, o drama do “dia seguinte” com ela ia se repetir com meu coração batendo.
E assim continuou. Quanto tempo? Não sei. Ela sabia que era tempo indefinido, enquanto o fel não escorresse todo de seu corpo grosso. Eu já começara a adivinhar que ela me escolhera para eu sofrer, às vezes adivinho. Mas, adivinhando mesmo, às vezes aceito: como se quem quer me fazer sofrer esteja precisando danadamente que eu sofra.
Quanto tempo? Eu ia diariamente à sua casa, sem faltar um dia sequer. Às vezes ela dizia: pois o livro esteve comigo ontem de tarde, mas você só veio de manhã, de modo que o emprestei a outra menina. E eu, que não era dada a olheiras, sentia as olheiras se cavando sob os meus olhos espantados.
Até que um dia, quando eu estava à porta de sua casa, ouvindo humilde e silenciosa a sua recusa, apareceu sua mãe. Ela devia estar estranhando a aparição muda e diária daquela menina à porta de sua casa. Pediu explicações a nós duas. Houve uma confusão silenciosa, entrecortada de palavras pouco elucidativas. A senhora achava cada vez mais estranho o fato de não estar entendendo. Até que essa mãe boa entendeu. Voltou-se para a filha e com enorme surpresaexclamou: mas este livro nunca saiu daqui de casa e você nem quis ler!
E o pior para essa mulher não era a descoberta do que acontecia. Devia ser a descoberta horrorizada da filha que tinha. Ela nos espiava em silêncio: a potência de perversidade de sua filha desconhecida e a menina loura em pé à porta, exausta, ao vento das ruas de Recife. Foi então que, finalmente se refazendo, disse firme e calma para a filha: você vai emprestar o livro agora mesmo.
E para mim: “E você fica com o livro por quanto tempo quiser.” Entendem? Valia mais do que me dar o livro: “pelo tempo que eu quisesse” é tudo o que uma pessoa, grande ou pequena, pode ter a ousadia de querer.
Como contar o que se seguiu? Eu estava estonteada, e assim recebi o livro na mão. Acho que eu não disse nada. Peguei o livro. Não, não saí pulando como sempre. Saí andando bem devagar.
Sei que segurava o livro grosso com as duas mãos, comprimindo-o contra o peito. Quanto tempo levei até chegar em casa, também pouco importa. Meu peito estava quente, meu coração pensativo.
Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia que não o tinha, só para depois ter o susto de o ter. Horas depois abri-o, li algumas linhas maravilhosas, fechei-o de novo, fui passear pela casa, adiei ainda mais indo comer pão com manteiga, fingi que não sabia onde guardara o livro, achava-o, abria-o por alguns instantes. Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre ia ser clandestina para mim. Parece que eu já pressentia. Como demorei! Eu vivia no ar... Havia orgulho e pudor em mim. Eu era uma rainha delicada.
Às vezes sentava-me na rede, balançando-me com o livro aberto no colo, sem tocá-lo, em êxtase puríssimo.
Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Gisele e o símbolo

Positiva!
Você tem medo!
Positiva!
Maldita Gisele e sua calça pantalona colorida.
Você nasceu às 13:00 horas, pobres nascem de madrugada.
Entrei naquela noite e ela sorriu, questionou confirmando meu nome e disse: Entre.
Cubo azul com um divã.
Implorei para que ele ficasse e pedi desculpas pelas falhas e eu chorava como criança.
Ai que lindo! Ela disse
E valeu tanto que nem você sabe, mas valeu tanto.
ORÁCULOS DE CAMILA

Mas que medo é esse?
Queimei meus dedos quando criança por causa da lua em touro!
Negro? Queimado de sol!
Com sorriso branco e órdens de general, mas como me amava!

E eu que tinha meses e já deixava de chorar ao ouvir seu nome.
Agora eu começo a chorar toda a vez que alguém fala dele.

Gisele positiva quer me ajudar
Melhorar meus ares, dizer quem eu sou.
Gisele positiva...às vezes eu te manipulo e você nem notou
Às vezes eu me manipulo e eu nem notei.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

I Need Your Lovin´Like The Sunshine

Agosto.
Cansei, cansei, cansei, cansei, cansei ... o mantra do desgraçado!
Ontem foi mais um dia da maldita janela. Até quando?
Não há nada que se faça, que se tente fazer porque eu cansei da espera.
Tentar para que?
PRECISA-SE DE PEDREIRO
Eu queria aquele sorriso de volta, mas quem me garante?
O cloridrato de nortriptilina?
10, 25, 50, 75 ... miligramas
Você! Você me diga o que quer!

Agosto. Eu não queria agosto.